terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A Anatomia do Amor

For a lonely soul it seems to me
you're having such a nice time
-Nothing in my way, Keane.


Meredith Grey. Eu acompanho a vida dessa mulher durante quatro temporadas. Seus relacionamentos, seu medo de se entregar e confiar, seus dramas familiares e sua obsessão pela medicina. E, em cada fase da vida dela, uma lição nova pra mim. Eu aprendo muito com Grey's Anatomy.

O que essa mulher me ensinou de mais importante tem a ver com relacionamento. Primeiro, Meredith (infelizmente) sabe diferenciar bem o amor do ato de relacionar. O fato de você amar uma pessoa e ser amado não significa relacionamento saudável, não significa necessariamente final feliz. Amar é espontâneo; já relacionamento, namoro, exige bem mais.

Meredith: Ok, você pode dizer o que quiser pra mim agora.
Derek: Eu quero casar com você. E quero ter filhos com você. Quero construir uma casa. Quero me estabilizar e quero envelhecer com você. Quero morrer aos 110 anos, em seus braços. Eu não quero apenas 48 horas ininterruptas. eu quero uma vida inteira.
[Meredith dá um passo pra trás]
Derek: Humm. viu o que acontece? Eu digo coisas como essas, e você luta contra seu instinto de correr na direção oposta. Tá certo. Eu entendo. Você é apenas uma iniciante e eu já tenho feito isso por um bom tempo. Lá no fundo, você ainda é uma estagiária, você não está pronta...

Meredith vive fugindo. A cada passo que o seu homem dos sonhos dá para avançar ela foge. Muita coisa tem dado errado na vida dela ultimamente, mas ao invés de se apoiar no seu homem ela se isola e prefere sentir toda a dor sozinha. Mãe com mal de Alzhimer, pai alcoólatra que a abandonou, meia irmã que rouba espaço, tudo faz com que ela desacredite no amor. Meredith não vive, não aproveita, ela sobrevive como pode, usando o trabalho como válvula de escape e sexo como forma de prazer. Derek, o homem dos seus sonhos até tenta um namoro, mas ela não.

Meredith: eu... Hummm...
Derek: Você ainda não está pronta pra isso.
Meredith:
Não.

Derek:
E eu exigi demais.

Meredith: Acho que sim.
Derek:
Então, é isso?

Meredith: Sim.
Derek:
Nós estamos terminando?

Meredith: Nós estamos terminando!

Se perder no meio dos problemas é sempre uma opção. Sentir a dor como se nunca fosse curar, como se o mundo não desse voltas, acontece o tempo todo. Perder-se em meio a vida é a forma mais fácil de se perder um amor.

E o medo de se entregar mais ainda também. Ela se vê como uma garota Hardcore que quando precisa de um homem ela tem, mas sem jamais se envolver.
Derek quer casar,
Meredith quer transar.
Derek
quer morar junto, Meredith quer um lugar para transar.
Derek quer uma companhia para o resto de sua vida, Meredith quer cada vez mais sexo.
A primeira vista pode parecer que falta sentimentos, mas não falta. Ela o ama, mas se contenta em tê-lo por algumas horas. Só assim ela pode ter a pessoa amada sem o peso de responsabilidade alguma e sem o risco de se magoar.


Pior que decifrar Meredith Grey, seus medos e seus traumas é descobrir que, na realidade, a culpa é toda do Derek. Foi ele que desde o princípio escondeu dela fatos sobre o seu passado que a decepcionaram (na realidade decepcionaria qualquer um, não conto o que aconteceu caso alguém ainda não tenha assistido). Derek mentiu, justamente quando ela tinha decidido viver esse relacionamento, ele cometeu o erro mais fatal de todos.

A mentira ou a omissão sempre rodeiam um relacionamento. Todos acreditam que se esconderem uma coisa aqui ou relevar um fato ali será mais saudável. Percebam: quando a verdade vem a tona é sempre assim que se perde a esperança. É quando a gente acorda e vê, de verdade e por inteiro, a pessoa que está dormindo ao nosso lado.

Faltar com a verdade pode ser irreversível, essa é a maior lição de Mere
dith Grey. Amar apenas as qualidades é fácil, mas com o tempo se descobrem os defeitos. Jamais esconder nada tem dado tão certo, porque quem ama de verdade ama por inteiro, e juntos podemos mudar em nós o que for necessário. Amor transforma.

Estar com alguém que não consegue lidar com as suas verdades jamais vai dar certo. E num relacionamento, nenhuma máscara dura pra sempre.


Meredith: Eu não quero que você saia com outras pessoas. Eu posso não ser suficiente pra você, mas eu estou tentando melhorar, então eu não quero que você saia com outras pessoas além de mim. É isso. Exceto, eu te desejo tanto que me assusta mas, de qualquer maneira, aqui estou eu te desejando. E o medo significa que eu tenho algo a perder, certo? E eu não quero te perder.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Profissional

"A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca."
Carlos Drummond de Andrade

Acho que eu temo esse momento de decisão. Aliás decisão eu já tomei. Fico é adiando a matrícula até Deus sabe quando, até que eu consiga perder o prazo e diga pra mim mesmo que não dá mais.

Cinco anos, e talvez uma vida inteira. E eu comando tudo isso, digo quando começa e digo o que fazer. Nunca tive que decidir tanto, mas não posso dizer que não tive tempo para pensar, afinal, fico adiando isso há anos.

Mas acho que dessa vez é diferente. Eu sinto que é diferente. Eu tenho medo, e o medo sempre me instigou. Eu não posso me dar ao luxo de gastar tanto dinheiro sem saber se é isso que eu quero, mas eu me sinto tentado a provar. Quem sabe a certeza só venha quando eu realmente estiver cursando.

A vida muda, e me exige cada vez mais. E, se eu quero ser um homem, eu preciso arriscar.

"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar."
-William Shakespeare

Um livro aberto, de páginas em branco.

Então aqui vai a verdade sobre a Verdade:
Ela magoa. Por isso mentimos
-Meredith Grey.


Quem? Como aconteceu? Por que não apresenta? Por que esconde?

Ah sim! As pessoas até tentam entender.

E sim, eu sei que sou irritante pra muitos. Um falso enigma, alguém que não é misterioso, mas que de propósito esconde, omite, encobre.

Eu até relevo. Não deve ser fácil conviver com uma pessoa que vocês nunca tiveram tudo. Que nunca esteve sempre presente nem nunca ausente. Alguém que jamais disse, mas também não deixou de demonstrar. Em nenhum momento eu deixei de ser eu, sem no entanto ter que me revelar para ninguém.

O que eu escondo afinal? O que tem em mim que vocês temeriam saber? O que existe entre o capítulo um e dois da minha vida que vocês nunca souberam?

Nada.

Eu mesmo me via como um ser incompleto. Sempre faltou algo me explicasse por completo, que me fizesse ao menos compreensível. Essa peça do quebra cabeça que vocês tanto procuram, eu nasci sem. Nunca tive.

Então não tentem entender mais do que eu ofereço. Até mesmo eu sei que é perigo se perguntar muito os porquês de todas essas mudanças. Eu vou me frustrar, ou vou inventar logo uma verdade só pra dizer que eu me conheço bem.

Eu não preciso saber de tudo. E nem vocês.
Se entreguem a tudo isso como eu me entreguei. Às vezes, pular alguns degraus não faz mal nenhum.


"Para aqueles que acreditam, nenhuma prova é necessária.
Para aqueles que não crêem, nenhuma prova é suficiente."
- Stuart Chase

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Vertigem

"Quando eu desmaiei esta noite, eu estava morrendo de medo, eu estava aterrorizado. E então te vi, e prometi a mim mesmo que se eu pudesse apenas me levantar, eu andaria até você... e te diria o quanto eu preciso de você e o quanto eu te quero... e como nada mais me importa.
-Nathan Scott, One tree Hill.

Começou com um mal estar repentino. Minha cabeça latejava e meus olhos tremiam. Dado momento eu já não conseguia mais olhar na cara das pessoas, chega uma hora que tudo some, você some. E eu me perco.

O ar me falta, e cada barulho vira um paradoxo: distante o suficiente pra ser incompreensível, mas ampliado o suficiente pra encher meus ouvidos. A multidão se multiplica e o espaço diminui. Me sinto pequeno, insignificante no meio disso tudo. É tanta gente, é tanta coisa, são tantos barulhos...


E então você me abraçou.


Onde eu estava mesmo?


Ah, sim! eu estava passando mal. Devia ser...

Agora eu entendo cada vez mais claramente o efeito que você causa na minha vida. Já faz um tempo que estamos juntos e o sentimento só aumenta. Cada vez fica melhor.

Será que a gente achou a fórmula para um relacionamento saudável? Ou será que a compatibilidade é maior que todo o resto?

Muita coisa ainda vai acontecer, eu sei. Mas eu estou na minha forma mais perigosa: muito mais forte, eu sei o que eu quero e ainda por cima absolutamente mal acostumado com a felicidade.

Pra me roubarem tudo isso vai ser muito difícil.

E eu não desisto por nada nesse mundo.


"Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata."

-Clarice Lispector

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

As entrelinhas

"Quando eu olho nos seus olhos
eu vejo algo que dinheiro nenhum no mundo compra
-J. T.

Por mais que seja difícil explicar tudo o que eu sinto, eu ao menos tento. E, mesmo se eu não conseguir, eu vou morrer tentando: nada pior do que estar com alguém que não se expressa, e eu quero que você saiba, em todos os detalhes, no que se transformou minha vida depois que você entrou nela.

Eu realmente torço que você sinta tudo o que eu sinto quando eu dou minha clássica risada tímida e te beijo.
Ou quando eu passo a mão na sua cabeça e te aperto bem forte. Ou quando eu te abraço e te faço carinho nas costas. Ou quando a gente dorme juntos e eu passo a noite te acariciando. Eu sei que você sente, mas eu queria te contar mais: queria te contar sobre o silêncio.

Sabe quando eu paro e fico te olhando nos olhos?

Um mundo de coisas surgem em minha cabeça. E só quando eu estive esses dias longe é que eu entendi o que isso significa: você me faz muito bem. E hoje eu estou mais forte.

Sério. Deus como é difícil explicar minha atitude perante aos problemas depois que eu te conheci. Você me acompanha em tudo, parece que está do meu lado me dando apoio. Ou mais que isso: será que eu faço tudo sem medo porque eu sei que se der errado eu tenho seu ombro pra chorar?

Deve ser.

E independente do nome que eu vou dar a esse sentimento, importante mesmo é o sentir. É gostoso demais poder sentir tudo isso. Dá um ânimo, eu posso vencer meu dia porque eu sei que vou te ver depois.

Daí que eu acordo bem melhor, e vivo melhor, só pelo simples fato de saber que você existe.

É esse o meu silêncio. É o que vem na minha cabeça quando eu olho nos seus olhos e abro, bem devagar, um sorriso, mas não digo nada: eu estou agradecendo a Deus por você existir.



"Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar.
Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita.
Eu chamo isto de estado agudo de felicidade."
-Clarice Lispector.

Je vous présente le Enigman

O grande segredo da minha vida não está no auto-conhecimento. Eu já cansei de me perder em mim, tentado buscar as respostas e os porquês de atitudes nebulosas.

Jamais consegui me dar bem com a auto-imagem. Meu forte não é o que eu aparento ser, não é o que eu finjo ser. Também não sei mentir pra mim: quando sou fraco, sou fraco e ponto final.

A grande força do meu ser é a auto-criação. Eu posso ser outro ser melhor hoje, independente do que fui ontem. Eu em moldo de acordo com a vida. Eu posso ser tudo apenas porque sou tudo. Da minha alma saem todos os sentimentos e deles todos os pensamentos. Aqui dentro, todo um universo -e é perda de tempo tentar entender e ficar se questionando quando eu posso simplesmente usar de tudo isso, afinal, não é porque você não entende o quão vasto é o universo que ele não existe.

E a minha fé é toda baseada nos resultados: é fato que toda vez que eu mudo, o universo conspira ao meu favor. Eu acredito não porque preciso, mas porque as peças se movem, nem sempre com a minha vontade.

A pergunta até pode ser o que eu fiz ou fui ontem. A minha única resposta vai ser sempre "O que com certeza eu não sou hoje e nem farei de novo amanhã."

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Dos porquês

O que nos difere é a adolescência. O jeito que cada um experimenta as dores e os prazeres da vida e, principalmente, o que a gente tira de conclusão depois é o que dita o que somos.

Pra mim todas as fases da vida terminam com a morte de algo. Aos poucos a gente vai perdendo as coisas, perdendo os anos e perdendo os afetos. Desnecessário dizer que o que vale mesmo é o que nasce no lugar, é o que a gente busca depois disso.

Adolescência é punk porque tudo morre. Até então o mundo gira em torno de você. As únicas pessoas que você conhece te amam, e você não precisou conquistar o amor dos seus pais, ele já estava lá. Você se arruma pra ficar mais bonito, mas não existe feiura nata: uma camisa nova e todos já dizem "Que lindo!".

A auto-imagem é destruída e o amor agora é todo por conquista, nunca garantido. Você se expõe pro mundo e pode muito bem ouvir um não. E não importa o quanto você queira, seus pais já não podem mais oferecer tudo o que você quer.

O ideal de amizade muitas vezes também morre. Na escola éramos íntimos, mas um dia cada um vai para o seu lado, levando consigo todas as promessas de eternidade.

E é justamente isso que é levado na adolescência, a eternidade. Que criança tem medo de morrer? De cair? De falhar?

A vida era muito mais simples, e por isso a felicidade era tão fácil.