sábado, 31 de março de 2007

A força da decepção

"Everyone thinks of changing the world,
but no one thinks of changing himself."
- Tolstoy


É fácil tentar mudar, mas quando essa mudança interfere em seus alicerces é necessário mais que um simples empurrão. E eu nem tive tempo de respirar, nem de gritar vitória, aconteceu
algo de uma maneira tão violenta que eu visualizei o fundo do poço novamente. Graças ao meu orgulho e à uma amiga eu não me joguei.

Quando você muda, o mundo muda. Não é só uma questão de ponto de vista, as coisas realmente acontecem para que, ou você prove que mudou, ou que você desista da amarga jornada. Ontem foi esse dia chave, ontem o mundo respondeu. E eu quase desisti.

Você se prepara para a batalha, repensa as táticas, mas o que você não espera é que um dos seus maiores aliados fosse lutar contra você. É uma verdade universal: Você pode fazer com que as pessoas insignificantes não te magoem, mas quando você for traído, quando quem você confiava te faz sofrer e de propósito, bem, não há saída. Você fica vulnerável.

E eu confiei. Juro que eu nunca desconfiei que uma das poucas pessoas que prestam naquele lugar fosse me olhar com aquele olhar frio, e fosse dizer palavras que me quebrariam por dentro. Eu na hora respondi com ódio e com um olhar de intocável, mas houve antes um milésimo de segundo de total inconformidade e dor. E aquele segundo de dor quando eu fui embora se transformou em horas.

Queria eu poder não ter confiado, não ter ajudado. Eu entendi e aprendi que, se até eu participo da teoria de "Every once in a while? Pick up a car!", ou seja, às vezes, dê o braço a torcer e faça "uma social", então pessoas próximas dos meus inimigos, mesmo sendo contra, podem muito fazer a social, mesmo que isso signifique me maltratar.

Mas como eu disse no começo eu quase desisti, e a palavra quase leva a um outro desfecho. Sim, eu prossigo e sinto que era essa a prova final eu sobrevivi.

Tenho que contrariar o que disse na primeira frase, nenhuma mudança é fácil.

Mas todas, após as provações, são sem dúvida prazerosas.


E eu me sinto... Pronto.


"To exist is to change, to change is to mature,
to mature is to go on creating oneself endlessly."
-Henri Louis Bergeson

quarta-feira, 28 de março de 2007

Try all. Choose the best.

Round two goes to the Jackass
-McSteamy, Grey's Anatomy

McSteamy, McDreamy, McVet. Apesar de ser contra, todos nós podemos se encaixar em algum padrão, ao menos na hora de amar. McDreamy é do tipo seguro, maduro e competente, e isso lhe torna sedutor. McVet é do tipo romantico, carinhoso e doce, e isso lhe torna sedutor. Por último McSteamy, que é do tipo sensual, e bem, ele é sedutor por natureza.

Se todos nós nos encaixamos em um padrão - e espero que você não seja do tipo Mcdog - então, qual desses eu sou?

Tem muita gente tentando descobrir. Já virou padrão pra mim ter diálogos como esse:
-Você namora?
-Não

-Você está ficando?

-Não

-Afinal, você fica?

Ok, ultimamente as pessoas não tem me visto namorando e nem ficando. Gera aquela curiosidade de saber se então eu estou sozinho por opção ou por falta de opção. É claro que é por opção. Ter dispensando tanta gente interessante, bonita e diferente nos últimos tempos não significa que eu não fico, e muito menos que eu esteja sozinho. Significa que eu escolho, e quando decido não fico me exibindo. Só isso.

Mas e quanto a arrasa quarteirão, tipo a McSteamy, que se interessou por mim no último Plastika, por que então eu não me entreguei aos meus impulsos hormonais?

É, agora a coisa é mais embaixo. Não quero parecer emo, no entanto a verdade é que eu não merecia. Ótimo, agora eu vou assustar um bando de pessoas que viram a cena ao vivo, mas EU estava assustado no dia. Paralizado. Eu posso ser um McVet pra uns, Mcdreamy para menos ainda, mas McSteamy? Eu McSteamy?

Eu quero ser sedutor, mas já expliquei aqui como essa idéia pode ser ruim, como a imagem pode falar mais que o conteúdo e me fazer
escravo de desejos e necessidades. O tipo Narcisista não combina comigo.

Ah, mas eu vou ser McSteamy em breve, e sem perder todo o resto. Como alguns devem saber eu começo uma jornada dura e vagarosa em busca de mim e estou me preparando pra ser inteiramente eu. E isso significa amar meu corpo também. Começo a fazer academia mês que vem, tudo certo já.

Em breve terei outra opção no meu cardápio. McVet, McDreamy, McSteamy?

Faça seu pedido. Acompanha sobremesa.


Cristina: McSexy?
Meredith: No.
Izzie: McYummy?
Meredith & Cristina: No.
Meredith: McSteamy.
Cristina: Ah, there it is.
Izzie: Yep.
George: Now...I'll just be choking back some McVomit.



segunda-feira, 19 de março de 2007

Coma

"I feel like one of those people who are so freaking miserable that they can't be around normal people.
Like I'll infect the happy people.
-Meredith, Grey's Anatomy

É, às vezes a gente acaba com a felicidade dos outros. Todo ser humano tem que admitir que causa um impacto nas outras pessoas: mesmo tentando acertar a gente erra. Isso pode até ser natural, mas ultimamente pessoas tem causado mais dano a minha vida do que eu esperava. E onde eu estive todo esse tempo? Acredito que eu simplesmete deixei as coisas chegarem a esse nível

Tem um episódio de Grey's em que um homem acorda do coma 16 anos depois, só pra ver sua vida completamente destruída. Sua esposa se casou e está grávida de um outro homem, seu filho de 1 ano agora tem 17 e você não estava presente em cada aniversário dele. Ele nem conhece o pai de verdade.

Você então já acordou um dia com a sensação de que esteve em coma? Perguntei-me denovo onde estava eu ano passado, onde estava minha vida e por que eu vi a tudo mudar sem nem ao menos me perguntar se tudo isso estava certo.

Eu estive dopado por um ano e só tenho o que agradecer, pois desde fevereiro eu tenho consciência de que vivo. Depois do pesadelo você acorda e percebe que tudo era ilusório e que você não viveu aquilo realmente. Após o pesadelo você acorda se sentindo salvo, simplesmente salvo.

Agora é hora de retomar antigas coisas, recomeçar de onde parei. A vida segue, meu caro leitor e eu não vou perder nem mais um minuto. Juro que esse mês eu resolvo muito!

Eu estou a beira de mais um aniversário e entendo que esse ano foi apenas um alicerce e, mais que isso, foi um exemplo nítido do que eu não quero pra minha vida.


"Most of the time pain can be managed, but sometimes the pain gets you when you least expect it, hits way below the belt and doesn't let up. Pain you just have to fight through, because the truth is you can't outrun it, and life always makes more."
-A mesma Meredith


sábado, 17 de março de 2007

Infantilidade

"Se não você, então quem? Se não agora, então quando?"
- Gary Herbert

Lembra de quando você era criança e te perguntavam "quem você levaria pra uma ilha deserta?"
Você fala o nome de algumas pessoas e te imterrompem - "Só pode uma!" ou lembra dessa: "O que você faria hoje se o mundo fosse acabar amanhã?". Coisa boba, e não é que hoje assistindo mais um capítulo da maratona Grey's Anatomy eu senti vontade de fazer uma lista dessas, de verdade.

No mundo, nesse exato momento deve ter um médico olhando nos olhos de um paciente e dizendo "Você tem mais um mês de vida". E se o paciente fosse eu?

"Se eu fosse morrer em um mês, eu aproveitaria meus últimos dias.
Eu sairia toda noite com a Natalia e não me importaria em como estaria dia seguinte. Eu beijaria alguém que tenho vontade desde o último Plastika e fico esperando outra oportunidade pra fazê-lo, não melhor, eu tomaria a iniciativa e nem me importaria se fosse desprezado.
Eu deixaria tudo pro meu sobrinho, eu quero que ele tenha uma faculdade.
Pediria desculpas a todas as pessoas que eu prometi não esquecer, mas que a distância foi maior que qualquer vontade. Perdoaria tudo e a todos, essas coisas pessoais se tornariam pequenas perante a morte.
Eu diria aos meus pais 'Belo trabalho comigo. Apesar de tudo criaram um homem consciente. Orgulhem-se de ter criado não só um ser que existiu, mas de terem criado uma Vida.'
Pediria a todos os amigos para me abraçar, eu precisaria sentir a todos para que quando partisse eu não pensasse mais em voltar. Missão cumprida e ponto final.
E por último, eu tentaria registrar tudo o que fosse possível num livro. Não seria uma biografia, jamais! Seria composto de reflexões minhas e de amigos para que todos pudessem enxergar a vida com outros olhos."

No final eu me sentiria vazio. Eu queria deixar algo duradouro pro mundo, algo que ajudasse a humanidade. No entanto morreria com aquela sensação estranha e vazia que se tem quando morre e chega a conclusão de que, apesar de não ter matado nenhuma vida, não salvei nenhuma também.

E, se depois desse mês me dissessem "Mentira, você tem mais 10 anos!", eu choraria.
Feito criança eu me consumiria em lágrimas, repensaria minha vida toda. Me sentiria renovado, renascido, e diria "Dez anos? Dá tempo! Vou fazer o que quero""

E você, quanto tempo você se dá de vida? E fará o que com ele?

Afinal, você nunca sabe quando vai pisar de novo em um hospital...


"Life, like poker, has an element of risk. It shouldn't be avoided.
It should be faced." -Edward Norton


sexta-feira, 16 de março de 2007

Can you keep it?

Segredos

Se a idéia é fazer desse blog um retrato próximo de minha mente então tínhamos que tocar nesse assunto. O que minha mente esconde dos outros? Tanta coisa com o potencial destruidor de uma bomba atômica.

Eu tenho um amigo que conta tudo a todos, é do tipo sincero até mesmo com as mulheres e eu fico imaginando como seria minha vida se eu fosse ele. Não ter que mentir sobre a impressão que as pessoas me passam, contar o que realmente sinto sem gaguejar e até mesmo falar da minha vida com tanta naturalidade que parece que falo de outra pessoa. Eu jamais conseguiria.

Segredos existem porque o ser humano faz coisas que considera imperdoáveis ou pensa em coisas repugnantes e tem vergonha delas. O que a gente raramente percebe é que segredos existem para manter as pessoas próximas, fazer com que elas continuem gostando da gente apesar de você (insira aqui seu segredo mais obscuro).

Eu tento ser sociável e nem por isso consigo ser sociável. Eu nem tenho tantas pessoas assim que eu me importo a ponto de esconder coisas. Das pessoas que eu me importo todas elas ou sabem ou aceitariam meus segredos.

Por que não contá-los, você pergunta? Simples, porque o segredo tem outra propriedade inconfundível: o mistério.

Sem os segredos eu seria mais óbvio do que já sou, então cavem mais a fundo e tentem descobrir todos! Eu não vou contar!

quinta-feira, 15 de março de 2007

Brilho Temporário de uma Mente Confusa

Todos essses momentos de introspecção estão me levando a caminhos novos. No primeiro ato eu discuti coisas relacionadas a falta de amor próprio, ao meu desespero por uma guinada na minha vida, a minha covardia de não mudar, e por ai vai. Tudo é na realidade um reflexo de momentos que eu já vivi antes, lembranças que permanecem. Tudo é afterglow, me ensinou um amigo.

Se tudo o que eu vivi, tudo o que me traumatizou retorna agora com força total, o que fazer com tantos restos de sentimentos? Eu tive que assistir O Brilho Eterno de uma Mente sem Lembraças para descobrir.

Desnecessário dizer o quão traumatizado eu estou agora. Aquela obra prima me fez ver que nem todas as lembranças devem ser apagadas. O problema de nossos traumas - de tudo que a gente vira a cara e finge não ter existido - vai e volta não porque nossa mente quer, mas porque a gente quer. Eu preciso de cada erro, necessito de cada trauma e eu sou cada pensamento meu. Se tudo isso fosse embora só sobraria a casca. Eu não seria Roque, afinal.

Grey's anatomy discutiu isso com maestria. E se sua mãe acordasse e não lembrasse mais de você? E se um médico dissesse que o amor da sua vida vai pra uma sala de cirurgia e voltaria sem te reconhecer, ou seja, sem te amar? Você daria ao seu amor 5 anos de vida normal ou 10 com amnésia?

"-Você tem que considerar o que pode perder. Para que outros 5 anos se ele não vai mais brincar sobre seus omeletes e ele não vai poder mais se lembrar de ver você de vestido vermelho?
-Ainda são mais 5 anos.
-Você não entende. Ele vai estar aqui, mas não vai ser o Jorge. Ele nem vai reconhecê-la.
- Isso é coisa nossa..
-Vocês não tem idéia do que isso vai fazer com vocês. Não é melhor 5 anos bons do que 10 anos ruins?
-Você acha que estou sendo egoísta, que eu não quero desistir dele!
- Não acho.
- Essa é uma decisão do Jorge. E se isso significa 10 anos ruins para mim, está tudo bem. Eu vou dar a ele estes anos porque eu daria tudo o que ele quisesse. E se ele ainda não se lembrar de mim, se ele não se lembrar o que somos, ele ainda vai ser meu Jorge.
E eu vou lembrar disso por nós dois."

É confuso entender sem assistir o filme e deve ser mais ainda pra quem apenas lê. A conclusão é que o que eu faço hoje tem relação com o passado, e, apesar de eu ter desejado antes que essas coisas fossem apagadas de minha mente, sem elas EU não existo. Quem sou eu senão um afterglow de todos esses momentos?

O que fazer com essas memórias, então? Nada, elas já fizeram algo por mim. Eu ergo as mão ao céu e digo que sem essas desgraças pessoais talvez eu seria só mais um, pior ainda, poderia ser alguém normal. Deus me livre de ser comum, eu estaria correndo desse computador porque vai começar Malhação. Credo! Eu fui salvo dessa vida e só porque tenho essas dúvidas e tenho essa obrigação de lidar com o passado é que sinto vontade ir atrás de respostas.

No final não, eu não trocaria essas lembranças por nada.


*

terça-feira, 13 de março de 2007

Limitando-se

"You need boundaries, between you and the rest of the world. Other people are far too messy. It’s all about lines. Drawing lines in the sand and praying like hell no one crosses them. At some point you have to make a decision.
Boundaries don't keep other people out; they fence you in."
-Meredith. GA


Não é raro a gente se perguntar se está aproveitando a vida, raro é descobrir que sim.

Há anos atrás eu fui ferido e tudo mudou. Eu pensei por muito tempo que entender meus sentimentos tinha a ver com não sofrer pelos mesmos motivos. Quando se anda com uma cicatriz você está mais seguro, você vai na direção contrária ao soco, você se previne. Pessoas que sofreram muito são perigosas, pois elas sabem que, aconteça o que acontecer, elas sobrevivem no final; li isso em algum lugar.

Eu, sem perceber, estava me tornando previsível e limitado.

Se você confia em uma pessoa e é traído, você é capaz de confiar de novo? Pouco a pouco eu me negava não só a acreditar nas pessoas, como também já as conhecia sabendo seu potencial de me magoar. Um simples oi é suficiente pra você saber que não deve se arriscar, que vai, por exemplo, levar uma bota ou que a pessoa não vai gostar de você. Você nunca vai realmente saber se a cena vai acabar da maneira que você idealiza: Você não deu uma chance ao destino.

Vendo a vida por este ponto de vista a gente se cerca de todos os lados sempre tentando se magoar o mínimo possível e acaba pagando o preço de sempre viver o mínimo possível. Não Ama de verdade, não Confia de verdade, não se Diverte totalmente, parece que sempre que tiver uma oportunidade de dar errado é melhor parar antes de começar.

Essa coisa toda de protecionismo merece ser analisada de outro ponto de vista, não o de um ser inteligente, mas sim negligente. Eu explico: Percebi que estou não mais forte, mas sim mais medroso. Todo esse papo de "nessa eu não caio mais" não é expertise, é medo. Será que eu estou duvidando da minha capacidade de sair de outra depressão? Será que eu fujo do fundo do poço por pura covardia?

“Tolo é o Roque, que não sabia que a verdadeira arte de viver não estava em evitar e limitar-se. Viver era na verdade a arte de cair e se levantar dizendo: ‘Da próxima vez vai dar certo’". Eu corro o risco disso estar escrito em minha lápide e ter apenas uma meia dúzia de pessoas no meu enterro.

Em raros momentos eu me arrisco e é neles, e só neles que eu descubro que ainda persisto. Meu destino não é viver no cinza, é provar do preto e do branco intensamente. Tenho que testar, provar, tentar e errar. tudo isso não pelo fracasso, mas porque poderia dar certo.

Eu vou fazer, eu vou me entregar ao destino. Eu estou vulnerável e começo a gostar disso. Isso começa a gerar um sentimento novo dentro de mim: liberdade!


"Waking up strong in the morning
Walking in a straight line
Lately i'm a desperate believer
But i'm walking in a straight line"

-Silverchair, Straight Line

sexta-feira, 9 de março de 2007

La Mala Educación

"You shouldn't have to sacrifice who you are just
because somebody else has a problem wit
h it."
-Carrie, SatC


Conflitos culturais no meu ambiente de trabalho não são raros, mas pela primeira vez eles me atingiram em cheio. Concordo que nem todos devem entender que o título do post remete à Almodóvar, aliás pode até ser que você não conheça Almodóvar - isso não deveria me faz melhor que você, mas pela primeira vez encarei o oposto: Ontem isso me fez pior que alguém.

Comer pão com um guardanapo foi um erro que todos julgaram que cometi - ou ao menos foi o fator inicial para todos começarem a falar o que pensam sobre mim. É, juro que começou com esse comentário e com algumas risadas, que logo prenderam atenção de mais pessoas sedentas por uma carniça e em poucos minutos o circo surreal estava armado: "Isso é coisa de gente que foi criada em apartamento", passando por "Duvido que ele já jogou bola com os pés descalços", evoluindo para "Vê se eu vou deixar meu filho ler o que esse muleque lê" culminando em "Imagina! Ele deve sair de casa com pantufas para não pegar resfriado". Coloque entre esses comentários um monte de olhares e risadas preconceituosas.

Eu me controlo até o momento que ofenderam não só a educação que meus pais me proporcionaram, como a minha cultura. Se eu já não gosto de ter pessoas rindo da minha cara e ficar exposto por minutos, imagina como fiquei quando os meus pais foram citados? E desde quando eu dei liberdade pra tudo isso?

Ora, hoje conclui que desde sempre. Primeiro, eu dou risada de cada piada deles, mesmo as racistas, as preconceituosas e as elitistas. Segundo, eu falo da minha vida e sempre tem um ouvido atento naquele café da manhã. Terceiro, eu me mostro como alguém diferente, eu assisto filmes que eles não ouviram falar, eu tenho amigos que eles jamais dariam "Oi" e gosto de coisas que eles, ou não entendem ou abominam. E todos sabem disso.

É, depois do amargo café da manhã o garoto sai magoado e vai refletir. Eu até mesmo me perguntei algumas vezes "Onde erraram na minha educação?". Eu fiquei tão surpreendido pelas ofenças que até estava esquecendo da verdadeira pergunta: "Afinal, alguém pode considerar minha educação errada?"

Bom, eu tenho uma lista de escritores favoritos e só para citar alguns exemplos um dos nomes é de um escritor da Prússia e outro de uma nascida na Ucrânia. Eu assisto cinema italiano e ainda acho David Fincher e toda a sua violência um Cult. Eu queria conhecer Dostoievisk e fico me devendo alugar mais Almodóvar. Por último eu dou risada e me emociono, tudo em 30 minutos, basta assistir Sex and the City. Tanta coisa nos difere.

Pensei então, não seria mais fácil a convivência procurando onde é que a minha cultura se sobrepunha a de quem me provoca? Eu nem decorei o nome dos BBBs, eu não sei como acabou a novela das 8 e sobre carros ainda tenho uma idéia superficial, sobretudo preço
s. Mas no meio de tantos assuntos achei um. Era isso o tempo todo. Havia sim um livro que nós lemos em comum: uma biografia. E foi essa tal biografia que me fez concluir o assunto.

Tudo o que eu li e estudei sempre ampliaram meus horizontes e de maneira nenhuma eles me limitaram. Eu posso
ler o que quiser e vou mais além: posso concluir o que quiser, e ainda assim isso não me fazer melhor nem pior que eles, logo eu não posso julgá-los, certo? Mas e o oposto? Eu fui julgado e apenas isso ilustra o quanto ler e praticar são duas coisas completamente diferentes para essas pessoas. Elas leram a biografia e fingem que praticam o que leram? Isso é loucura.

Eles julgam, se cegam para determinadas informações e se limitam. A começar pelo fato de alguém lê o tal livro para eles.
É leitura mastigada pra adultos, é do tipo "Eu leio, comento, interpreto e cabe a você apenas aceitar como eu impor, mesmo sem saber se a tradução significa realmente o que eu falo". No final não conseguem entender o que o escritor quis dizer.

Pior, eles não praticam a lição que o escritor passou. No mesmíssimo livro que lemos estava escrito - e só faltou vir em negrito
- que não devemos julgar ao próximo.

Pronto! Eu finalmente me salvo dos hipócritas. Perdoa-os Senhor, eles não são capazes de entender, sobretudo praticar vossas palavras.
Achei o abismo entre nós e essa vai ser sempre a diferença de nossas educações.

Eu peguei um pão, um guardanapo e encarei os olhares maliciosos dos juizes, prontos pra mais uma rodada de insultos. Dessa vez eu disse em voz alta encarando o orador-mór: "Sim, eu tenho uma educação diferente. E não vou mudar porque você quer".

É, depois disso o café da manhã até teve outro sabor...


"Esta recomendação só visa a estabelecer a caridade, nascida de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera. Apartando-se desta norma, alguns se entregaram a discursos vãos. Retensos doutores da lei, que não compreendem nem o que dizem nem o que afirmam."

-I Timóteo 1:3

"E seus filhos serão como na antiguidade e Eu castigarei todos os seus opressores".
-Jeremias 30:20

segunda-feira, 5 de março de 2007

Dedicatória

*

Traumas, risadas, memórias, mídias diversas, descobertas, informação, diversão, estudo e principalmente sinceridade.

Que estes primeiros posts sejam dedicados ao seu primeiro leitor, que sem ele nada disso seria real. Que eu descubra nele mais coisas sobre mim sem ao menos nos identificarmos. Que eu me ame mais sem nunca tê-lo amá-lo. Em cada epifania nossa as conclusões são diferentes mas nunca contraditórias. Nem os gostos se coincidem, mas cada tarde é única como nunca me ocorreu antes e o seu ponto de vista é completamente necessário, é como se não chegasse a entender as coisas por apenas vivê-las. É tudo tão diferente que te ouvir replicar é viver duas vezes o mesmo fato.

E desse ponto de vista, dessa vida que repugna a minha - porque você deve - e difere das minhas verdades que vem a indagação. E a dúvida me faz escrever.

Que nenhuma palavra se cale diante dos fatos, o Blog é desabafo mais que verdadeiro

E estaria eu transformando você num personagem idealizado? Pergunta o leitor.
Não, nunca. Me entendeu errado. És tão humano que é isso que me prende: A tua humanização, completa em todos os defeitos e peculiaridades.

A real one man guy like I'll never be.

Ao mestre, com carinho.

single-vs-married

Miranda: Christ! When did single translate to being gay?
Charlotte: I hate it when your the only single person at a dinner party and they look at you like you're a...
Carrie: Loser!
Miranda: Leper!
Samantha: Whore!
Carrie: Everywhere I looked, people were standing in two's. It was like Noah's ark.

"Bay of Married Pigs" - Sex and the City

sexta-feira, 2 de março de 2007

Sanguinários

E então naquele escritório elegante e moderno minha doutora olha nos meus olhos e Pergunta:
-Você é sexualmente ativo?

Eu disse sim, mas conheço gente que responderia "Isso foi um convite?" ou até mesmo "Sexualmente ativo? Passivo, mas a gente pode negociar!". Eu entendi que ela só queria saber se eu não era virgem. Fico um pouco corado e espero ela completar minha lista de exames. Dessa vez ela pediu um exame a mais.

Desde que minha médica - que eu amo - pronunciou a palavra hipotir(e)oidismo quando tinha 18 anos eu comecei uma jornada delicada em busca de um estado saudável e controlado por remédios. Ela, por ser muito competente, acaba por pedir vários exames, desde colesterol até anemia e a gente tem essa intimidade toda mesmo, ela pode perguntar o que quiser e pedir o exame que bem entender.

Meses atrás eu fui tirar sangue e uma enfermeira dalit e insegura me pergunto "Você não tem nenhuma doencinha no sangue, né?". Doencinha? Me toquei bem depois: é assim que aquela anti-ética chamava AIDS.

Aids cara, era isso que ela quis dizer e eu não fiquei irritado, nem reagi dizendo "Não, não. Aids, eu?". Eu respeito muita coisa e qualquer que seja o motivo por alguém ter pego não faz essa doença e o sofrimento serem menos nobres do que qualquer outra. Morreu de câncer é herói, morreu de Aids era viado?



Tudo isso veio a tona quando fui retirar sangue hoje. Entrei na sala de um enfermeiro que já de longe dava pra sentir que era brâmane na vida. Ele era idêntico ao David Finsher de Six feet Under e eu só não comentei porque ele deve ter ouvido milhares de vezes o mesmo comentário. Ele tinha o mesmo olhar de superior, a mesma precisão de um perfeccionista e o mesmo jeito delicado. Juro que era igual.

E tudo explodiu quando ele me perguntou "O balconista não te deu nada pra preencher? Certeza que não?". E ele foi com olhar de que amaldiçoaria até a décima geração do atendente. Ele volta com um papel e eu percebo tudo. Tive que assinar uma autorização. Será que algum exame era grave? Que nada, eu percebi que entre testes de tiroxina livre e teste pra síndrome de hashimoto havia um teste de HIV.

Obrigado doutora, ela se preocupa comigo. Após abrir o resultado de um teste de colesterol e triglicérides anos atrás e que 45 dias antes dele ela suspeitava que eu fosse diabético a fez abrir um sorriso sincero. De coração você não morre mais, disse ela. A doutora não só cuida, mas também torce por mim.

Queria que mais pessoas torcessem e me desejassem o bem.

Quanto ao resultado? Eu me preocupo com a tireóide, colesterol, triglicérides e saber se finalmente a origem de tudo é a tal Hashimoto. Sobre Aids eu nem ligo, eu me previno.

De qualquer forma o resultado fica pronto segunda...


PS: Eu fico devendo um post sobre Six Feet Under e outro sobre a descoberta da hipo.

Os Prós e Contras

E agora eu tenho um Blog

Use-o de 3 maneiras:

1)Me compreender melhor pode me fazer melhor. Se você pudesse me descobrir nessas páginas, então você me trataria melhor e isso me faria mais completo. Imaginar que as pessoas que gosto um dia poderão entender minha vida e me respeitar mais é uma utopia necessária.

2)Me encontrando talvez você se encontre. A dor humana é bem parecida. Os fatos podem ser diferentes e, no entanto você pode ter momentos em que se sente entendido por minhas palavras, como quando o texto atinge o leitor e ele diz "Isso foi escrito pra mim" ou "Ei! Isso acontece comigo também”.


3)Você pode desclassificar todo esse lixo. Definindo um blog como esse de pobre de espírito você poderia então querer se mostrar superior a tudo isso e isso te levaria a escrever teu próprio blog. Me pergunta algum dia se eu fosse desprezado mas incentivasse mais escritores se eu não me sentiria feliz...

Que, de alguma maneira, você se ilumine

quinta-feira, 1 de março de 2007

CLEANING OUT MY CLOSET

Todos podem tentar me parar e até mesmo o destino pode tramar contra mim, mas é o medo que vai me levar ao fracasso.

Hoje, em meio a conversas e discussões, percebi algo vital que passava despercebido. Eu sempre fui o que chamam por aí de picolé de chuchu e sempre soube que eu não sou um. A gente acaba sempre vendendo uma imagem e esta deve ser a primeira vez que você ouve falar em vender algo inferior, em empobrecer o produto. É que eu tenho colocado um monte de barreiras naquilo que chamamos de felicidade, dizia Clarice.

Eu nunca aceitei ser mais um fútil. Prefiro me manter calado mesmo sabendo que poderia ter feito aquele comentário que me colocaria no foco e no topo, e no mais, sei que quando tento impressionar acabo por me passar de bobo. O fato é que as pessoas precisam de mentiras. Precisam de pessoas que fizeram algo que elas não teriam coragem de fazer, que falem aquilo que elas queriam falar e que vivam tudo o que elas jamais viveriam.

Eu não sou desses.

Escondido atrás de roupas de uma marca qualquer e de uma voz que nem chama atenção, eu passo por despercebido no primeiro momento e até que se fale comigo eu não me mostro. É como disse Mr. Palahniuk:

"Claro, quero mostrar que valho o esforço. Lavado mas não passado. Limpo mas não polido. Minha idéia é fazer com que a feiúra trabalhe a meu favor. Estabelecer um padrão baixo para contrastar com o que mostrarei mais tarde. Antes e depois. O sapo e o príncipe."

Esse era eu até ontem e só agora eu tive coragem de me dizer o porquê. Achava que tinha relação com o fato de não se vender a uma imagem. A deixar que os outros (e outras) se aproximem pelo conteúdo e não pela aparência.

O que cavei e desenterrei foram memórias traumatizantes e reveladoras. A origem de tudo isso é nada mais que alguém que eu amo, que em épocas passadas me disse que eu não posso. Que eu não tenho direitos. Que eu não deveria existir. Que eu sempre serei inferior na vida. Dá pra acreditar que eu fui me acostumando com a idéia de se inferiorizar? Eu não fui feito para existir, logo eu afeto a realidade o mínimo possível, devo causar quase nenhum dano. Pura loucura.

De tanto falarem mal você se torna mal?

Adeus a tudo isso que me prendia. Eu quero quebrar esses grilhões insanos.

Back to life, vou ser como Nietzsche e Pindarus definem: Was sagt dein Gewissen? — Du sollst der werden, wer du bist.


Meu alter ego está pra morrer...