segunda-feira, 28 de maio de 2007

Náuseas

"Porque há o direito ao grito.
Então eu grito."
-Clarice Lispector

No final eu sobrevivi pra contar o que aconteceu.

Eu tive uma noite tranquila ao lado de amigos e pessoas bem quistas. Até eu chegar. Como disse no meu fotolog, tem notícias que destróem uma vida.

Se ontem eu dormi com vontade de não acordar, paradoxalmente acordei hoje com vontade de viver. Tudo pronto para mais um dia de trabalho, encontrar depois os amigos, conversar, talvez escrever sobre o fato de ontem, enfim, seguir em frente.

Nada poderia ter dado tão errado.

Quem presenciou minha discussão esta manhã deve ter ficado com uma impressão bem próxima da real: houve hoje um conflito de opiniões que valeram seis horas de puro luto e eu não consegui esconder isso. Eu me angustiava por dentro e queria vomitar algo que não era físico, difícil explicar sem citar uma vontade única de gritar e fugir. Eu pedi pra que aquelas horas acabassem em minutos, rezei como um condenado prestes a morte pra que Ele me pegasse pelas mãos e fizesse daquele inferno pessoal um lugar no mínimo aceitável de se estar. Eu não aguentava mais um minuto naquele inferno, e quanto mais desejava que o tempo corresse, mais ele se extendia.

Eu tenho sido outro. Eu tenho rompido barreiras dentro de mim que me tornaram não só mais aceitável a mim mesmo como também mais forte. No entanto, cada passo para frente é um sinal de que não é essa a vida que quero e não são essas pessoas que preciso a minha volta. Em resumo, quanto mais me gosto, mais me exigo e menos me conformo com a minha realidade. Exigência tem seu preço e talvez eu caminhe agora lentamente à solidão. Hoje foi outra prova de que essas pessoas não me valem.

De fato tanto fez a ameaça que sofri, eu não senti medo do futuro. Eu poderia ter perdido tudo hoje que eu refaria a minha vida com nova perspectiva, eu só queria mesmo que aquilo acabasse logo, não importanto como acabasse.

Até pensei em concluir com uma citação mais que válida de um amigo, mas até isso me foi tirado também. O que sobrou pra mim foi eu mesmo, e nem eu estou inteiro agora e nem me satisfaço também. Minha presença pra mim é só mais um aviso que ninguém que gosto estará aqui e só posso ter quem eu não quero.

Perdido, magoado e principalmente sozinho, acabo esse dia com um desprezo pelas pessoas que me cercam e não me pouparam. Atiraram pedras, inclusive num momento de fragilidade pessoal, apenas para elevar seu ego e mostrar quem manda e, que quando caladas, tem se monstrado negligente às minhas necessidades e desejos. Eu não passo de um objeto de interesse para todos eles?

É por isso que eu queria vomitar, intenso nojo por todas as pessoas que insistem em cruzar o meu caminho.

Mas quem presenciou a discussão também me viu levantar a voz e lutar de igual para igual. Prova concreta de que eu também sei e posso ser agressivo, egoísta e mesquinho. Esse é meu medo, cada dia a mais com essas pessoas eu me contamino, eu me torno um pouco deles também.

E isso, isso eu não quero. Só de pensar nessa possibilidade me dá novamente vontade de vomitar...

"Que os mortos me ajudem a suportar o quase insuportável,
já que de nada me valem os vivos."

-Clarice Lispector

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