quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Tântrico

"Why do you take by force what you could obtain by love?"
~Powhatan



As pessoas costumam dizer "Siga o seu coração", mas se você pensar bem no assunto "o coração" é muito pouco. Há dezenas de ferramentas num corpo, e elas justamente seguem uma ordem hierárquica estabelecida na nossa própria anatomia, assim, natural mesmo, de baixo para cima. Basta olhar qualquer imagem que tenha uma pessoa ereta com os chakras destacados.

Tudo começa lá embaixo, pelo sexo. A fagulha, a paixão, a primeira impressão avassaladora. O primeiro instante é esse primeiro chakra aí, absolutamente intenso. É ele que desperta todos os sentidos, m
as pode acabar por aí, é só uma coisa temporária. É só bom sexo.

Se aquilo te preenche por completo, te sacia mesmo, então chegamos ao estômago. É só quando a fome some e temos os sentidos plenos é que podemos ter a garantia de que vale mesmo a pena seguir em frente. E advinha o temos mais acima?

O coração, que fica no meio do peito. Mas se você pensar na história dos chakras e do pilar de energia do corpo humano, ele pode ser muito importante, mas nem de longe é topo e nunca deve ser o final. É por isso que é perigoso quando ele rege todos os outros, porque ele não fala, não enxerga, não pensa e não aceita o imprevisto. A maioria das pessoas para por aí: o sexo é bom, estou pleno e satisfeito, já posso criar vínculos, certo?

Não. Siga os olhos no corpo e descubra que acima do coração ainda temos a garganta e a boca. Vai ter um coração e não se expressar pra ver o que acontece! Muitas pessoas ainda acreditam que o verdadeiro motivo por detrás do câncer é justamente guardar esses sentimento. E não só a falta de palavras, mas o excesso também é prejudicial: uma palavra errada pode destruir qualquer coração.

Dai vem a orelha. Não saber escutar, não prestar atenção, pode ser o fim de toda a batalha por um relacionamento saudável. Não prestar atenção nos ouvidos significa egoísmo.
É por isso que os ouvidos estão acima da boca: ninguém consegue falar bem e tocar sem saber ouvir. Falar é importante, mas ouvir bem é mais ainda.

Depois temos os olhos. Nossos sentimentos mudam se a nossa visão do mundo muda também. O inverso é também verdade, uma nova visão sobre a vida pode mudar por completo nossos sentimentos. O que percebemos da vida pode nos fazer enxergar os outros de outras formas, num ciclo em que nenhum sentimento é sempre o mesmo. Às vezes, tudo o que você precisa pra superar um amor fracassado é uma visão de um evento que deturpe esse amor platônico.

A cabeça. A mente pode tanto controlar quanto distorcer tudo o que o resto do corpo arrecadou. É ali que tudo é resolvido. Se o seu coração alertar o problema, a mente pode muito bem te colocar em armadilhas infinitas, viciado no sentimento de satisfação e prazer, tudo pode ser uma chance de lembrar alguém que não está mais aqui.

Agora vem a maior surpresa: para os indianos não termina aí, ainda temos algo mais acima ainda. Encima das nossas cabeças fica a conexão com o Universo e Deus. Aí, num português muito claro, é onde tudo fode. Está acima de tudo para nos lembrar que, por mais que desejamos algo, o universo é imprevisível e vai controlar os resultados. Se você não se conectar ao universo, ser flexível ao momento, relacionamento nenhum dará certo.

Pra isso também serve o corte dessa ligação: a morte. Serve apenas pra dizer que a gente no fundo não tem poder sobre o Futuro, no sentido mais amplo da palavra.
É pra que nós tenhamos sempre a certeza de que, mesmo com todo o esforço do mundo, a última palavra sobre a vida não é nossa.

Então, quem não sabe se expressar
, não escuta, está cega, não pensa e não tem capacidade de aceitar o imprevisto jamais deveria seguir o coração. Jamais.



"The gods may throw a dice
Their minds as cold as ice
And someone way down here
Loses someone dear
The winner takes it all
The loser has to fall
It's simple and it's plain
Why should I complain?"

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