sábado, 28 de abril de 2007

Depois da Via Crucis, ressurreição.

"Estou numa liberdade deliciosa. Há anos que eu não sentia isso."
Clarice Lispector - sempre ela.

Já deixo bem avisado. Vai ser impossível explicar algo tão surreal e abstrato quanto minha alma.

E eu cheguei no âmago da coisa. Percorrer um longo e doloroso caminho não foi suficiente, faltava aquilo que eu chamo de coup de grace. A última cartada seria inesquecível e tão inédita quanto
imprevisível.

Eu entrei no ônibus, e entre uma conversa e outra surgiu o assunto da garganta. Quem conhece meus problemas sabe que garganta é o assunto desta vida. A mente dá voltas, é como uma fila de dominós, quando se derruba um, impactua nos outros e um pensamento foi seguindo outros até chegar bem no limite da mente, um ponto cego da qual eu havia me esquecido: como foi que eu sai da depressão mesmo?

Olha onde fui parar, retroceder até o estado primitivo que foi minha vida antes de descobrir a doença e que era facilmente confundida com depressão - e de fato é até um dos sintomas - e tive de encarar como eu me livrei disso tudo. Há uma força maior que todo o universo e o além juntos, que explode e te tira disso, é involuntário e incontrolável. Quando você acorda, você já está de pé de novo. Surge de novo aquilo que chamam de esperança.

Mas de onde vem essa força? Esse era o ponto cego, esse era o fato que minha mente escondia de mim como se fosse algo estratégico. Durante aquela viagem de ônibus a resposta para essa pergunta invadiu meus pensamentos e eu lembrei de tudo.

É como em jogos mortais. Todos tem vidas miseráveis e muitos optam por desistir, vivem como zumbis simplesmente cumprindo rotinas e sofrendo quando não conseguem. Não há luz, não há desejo, tudo o que pode ser confundido com esperança é a inveja, os outros podem ser feliz,
os outros podem ter um amor, os outros podem ter dinheiro, eu não posso. Desse estado miserável em que o suicídio foi uma palavra que poderia trazer conforto eu passei ao amor eterno, tudo num instante.

O ponto cego então se ilumina e eu me vejo com o resultado do ultra-som na mão. E vejo também na foto dois caroços que os médicos chamam de nodos, tumores na melhor das hipóteses. Dezoito anos e eu ouvi a frase célebre "Pode ser câncer". Como em jogos mortais, a força surgiu. Você odeia a sua vida até o momento em que percebe que pode realmente perdê-la, aí luta como um desesperado se agarrando as bordas do momento da morte e implorando por alguns dias, até mesmo por mais alguns segundos.

E por que a mente foi estratégica? Porque depois do que passei eu fiz uma promessa. A vida começa nesse dia, agora eu não desperdiço mais tempo. Eu sou mestre do meu destino e se for para morrer que seja batalhando. Desnecessário dizer que eu não tenho cumprido essa promessa.

Eu coloquei a mão no rosto e disse "O que eu tenho feito da minha vida, Deus?". Eu explodi em dor, eu senti a origem de tudo e foi tão ruim como morrer. Eu tomei de novo a consciência de que estava vivo e é como acordar com baldes de água fria. Lembrei-me lentamente do meu olhar fixo pro meu pulso naquele dia sombrio e de toda a promessa citada. Eu ia fazer a vida valer a pena, mas não tive coragem para tal ato. Eu errei.

Bem no clímax disso tudo algo novo e surpreendente surgiu em meus olhos: uma lágrima. Se vocês soubessem como dói não saber chorar, como não consigo tornar física a tristeza... E eu descobri o quão confortante e aliviadora é a sensação de chorar. A lágrima finalmente escorreu.

De olhos bem fechados me vi nu diante de uma luz infinita. Eu chorava desesperadamente e soluçando eu gritava "Me guia Deus". Era o ápice do absurdo, mas a imagem ficou absolutamente nítida na minha mente. Pode ser o que for, o que vale é que eu sequei em sentimentos. Eu me renovei de tudo. Perdi mil quilos de culpa.

E então eu acordo. Ônibus em movimento, amigos rindo, senti a carne de novo. Em movimentos involuntários esbocei um sorriso tímido, que foi se transformando em gargalhadas escandalosas. Garanto que se existisse uma forma de detectar a louca nas pessoas eu certamente seria um candidato ideal.

E agora eu eternizo tudo nesse blog. Li hoje uma frase impactante: todo velho que morre é uma biblioteca que incendeia. Eu vou deixar esse relato surreal pra qualquer um saber que eu perdi de vez aquilo que chamo de lucidez e que eu não quero esquecer essa sensação de liberdade.

Mas só a esperança não me basta. Eu vou completá-la com algo bem mais real, bem mais prático. Onde a minha esperança falhar, eu vou preencher de perseverança.

Vida perfeita? Que nada, a vida vai me passar mil rasteiras e eu só tenho vinte e dois anos, sofrer daqui há alguns anos vai ser mil vezes mais intenso do que isso que eu chamo hoje de problemas.

Contudo, nessas horas ruins, eu quero me lembrar de hoje.


"...foi por causa de Wonderfalls que eu entendi que o universo é tipo um cafetão nervoso. Latino, com a camisa aberta, uns colares de ouro aparecendo, chapéu com pé, anéis nos dedos. E ele acha que EU sou a puta de ouro dele - e se eu não fizer EXATAMENTE o que ele quer, ele me bate e deixa marca de anel. E, veja bem, como todo cafetão nervoso, ele nunca explica muito bem."
- Bruno Canato, escritor do blog oladoc.blogspot.com





quinta-feira, 26 de abril de 2007

Teoricamente Incorreto

"Perder-se também é caminho".
Clarice Lispector


Afinal, quanto do que você diz pode ser aplicado na prática? Em que ponto a palavra de consolo deve se tornar ação?

Pessoas tendem a se cegar diante dos problemas. Sentimentos e pensamentos se alinham para que o foco seja sempre o problema e nunca a solução. Quando a mente aceita que a situação chegou ao limite só o tempo ou outra pessoa - aquela que chamamos de amigo - podem te excluir do círculo vicioso dos pensamentos e sofrimento.

Eu entro aí.

Motivado por um impulso filantrópico me torno mais que apoio, me transformo em bem mais que o ombro que se chora. Eu tento te livrar disso tudo. E agora. Funcionou dezenas de vezes, falhou milhares.

E tudo caminha bem até que um ouvinte interfere e diz "Chega dessa filosofia blá blá blá" - houve um rompimento aí. Houve algo forte, a negação de que nada do que foi dito vale a pena ser tentado e as ações sugeridas são simplesmente impraticáveis. Fica tudo apenas na teoria, e mais que isso, a teoria é ainda assim incorreta.

Num mundo onde todas as pessoas sofrem por amor, onde todas as histórias se repetem, por que raios as pessoas insistem em afirmar que a situação é diferente ou inédita?

Eu tenho uma teoria (e que como todas as outras pode estar incorreta): o fato pode ser diferente, a dor humana é a mesma. O que muda sempre é a intensidade. Diz-me que na minha visão tudo é mais simples, mas é que eu acho que se pode evitar tantas lágrimas, não é falta de respeito por ti, é excesso de zelo. Sinta logo, aceite a ausencia, leve o tempo que levar, mas está perdendo uma ou até duas oportunidades bem ao seu lado.

No mais, podem ser os meus conselhos infantis ou os teus sentimentos imaturos.

Independente da resposta, quem chora aqui é sempre você.


"Eu quero sua energia
Eu quero sua fantasia
Eu quero ver suas mãos
Eu quero me afogar em aplausos

Você me vê?
Você me entende?
Você me sente?

Você me ouve?"
-Ich Will (tradução) - Rammstein

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Perspectiva

"O Mundo não está errado. O erro é achar que esse pouco que conhecemos é o Mundo"
-Roque Roberto, Blog enigman.

Quantas pessoas você conhece?

Em cada esquina existem um mundo de pessoas a serem desvendadas. Eu achava que a única pessoa que valia a pena viver se foi e sofri pensando que seria eternamente assim: vida sem graça, sem cor, sem brilho. Eu jamais veria sentido em viver novamente. Eu estava completamente errado.

Pessoas são insubstituíveis, é fato. O que a gente esquece sempre é que podemos conhecer alguém que faça tudo valer a pena de novo. Pessoas interessantes existem, e este ano aprendi que elas estão nos locais mais improváveis. Eu descobri pérolas nos locais mais profanos e sujos desse mundo.

O importante é não ficar cego. Alguém do seu lado te chama a atenção? Não é porque a maioria das pessoas que eu conheço se contentam com coisas fúteis e não dão atenção ao significados de suas atitudes que o mundo inteiro é assim. Descobri com o tempo que uma pessoa é Zoroastra, que um daqui também lê Chuck Palahniuk e outro de lá tem a escrita como dádiva infinita.

Alguém já me conheceu e disse que eu não existo. Já conheci alguém que eu duvidei que existisse. Tem por aí tanta gente que pensamos que não podem existir num mundo como esse... Nem todas as pessoas pertencem aos padrões e somente elas fazem meu dia melhor.

Então façam o meu dia! Prazem em conhecê-los, Roque, 22 anos e de conduta simplória por falta de opção. Conheçam-me, porque nem eu fui capaz de fazê-lo.


"You must not know 'bout me
I can have another you by tomorrow
So don't you ever for a second get to thinkin'
You're irreplaceable"
-Beyoncé, Irreplaceable

domingo, 15 de abril de 2007

Conspiração

"Listen, to the song here in my heart
A melody I started but can’t complete...

...Listen, I am alone and across roads
I’m not at home in my own home
And I’ve tried and tried
To say what’s on my mind"
-Listen, Dreamgirls

Março foi um mês difícil. Não fossem pelos atrasos dos vôos e pela greve dos controladores, eu ainda tive que enfrentar várias situações desagradáveis no trabalho.
Você ergue a cabeça e segue em frente, certo? E então pessoas que você nem liga te puxam o tapete e te humilham. Você continua em frente, certo? Até o momento em que pessoas que você tem afinidade também puxam o tapete. Agora você cai? Não! Você persiste, certo? Mas então chega o seu aniversário e muito do que foi programado não consegue sair do papel. Você chora? Não! Você prossegue, certo? Por último, o dia em que tudo será comemorado, em que finalmente vai ter uma folga, tudo sai o controle e dá errado, todos os detalhes falham na hora em que você mais precisava se divertir. Você desiste, certo?

Eu não sei. Eu ainda continuo olhando pra tela do computador tentando entender um décimo do que aconteceu naquele lugar. O local estava bom, eu estava mau. O que acontece naquele lugar, afinal?

Foram tantas coisas e tudo tão acumulado. Era algum tipo de conspiração, acho. Da primeira a última coisa na minha vida ultimamente tem que dar errado, agora os fatos atropelam minhas expectativas e é algo mais forte do que posso mudar ou fazer. E eu me senti tão... Forte. Sim, por mais contraditório que seja eu fui derrotado e estou encarando com glória a arte de se levantar.

Não me julgue como um herói, veja a mim como um cego que ainda finge que pode seguir em frente mesmo com tudo saindo do controle. Perseverança, eles falam...
E isso é estranho. Eu já nem sei mais se isso é bom ou ruim, porque, como pode acontecer tanta coisa desagradável e eu continuar imune? Estaria eu me iludindo, apenas esperando a hora em que vou acordar para a realidade?

Do pouco que assimilei desta noite, posso concluir que levei um tombo maior que o suportável e sei que muitos já teriam desistido ou chorado no meu lugar.

O que quer que tenha acontecido de verdade, mesmo com tudo saindo do controle, não foi o suficiente ainda pra me levar a depressão.

Ou pior: talvez eu não caí realmente, porque nem de pé eu estava.

No final fui conferir as fotos do dia. Incrível como em alguns momentos eu estava me divertindo de verdade. Me lembrei do momento em que o celular tocou e eu recebi a notícia bombástica, do momento seguinte em que todos estavam a minha volta perguntando o que tinha acontecido e eu me levantei e falei "Não hoje, a única coisa que preciso é dançar e esquecer de tudo".

Começou a tocar The Cardigans, my favourite game e eu dancei tudo o que não havia dançado até então. Até agora eu estou ouvindo a música.

Mas, o que será de mim quando a música acabar?


"I had a vision I could turn you right
a stupid mission and a lethal fight
I should have seen it when my hope was new
my heart is black and my body is blue

And I'm losing my favourite game
you're losing your mind again"

-My favourite game, The cardigans.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Brazilian History X

Originalmente criado em 08/03/07


Bush chega ao Brasil esta noite.
O tráfego aéreo vai parar e só quem trabalha no aeroporto viu a quatidade de parafernalhas de segurança estão desembarcando desde o final de semana. Esse povo é paranóico.

Eu estava lendo mais sobre "American History X" e refletindo como isso não só cabe nos EUA. Racismo agregado a violência física é realidade agora no Brasil tanto como foi na época da escravidão.

Queria eu que um avião se chocasse com o Palácio da alvorada. O nosso País é passivo, que não aprendeu com a sua própria história, e como disse Maquiavel, cada povo tem o governo que merece. Nós merecemos todos esses deputados,
parlamentares e o Lula. Nós os colocamos lá e assistimos aos escândalos como quem assiste BBB, a diferença é que o paredão é daqui a tanto tempo que chega a ser suficiente para esquecer.

Se tivessemos outra ditadura, teríamos um povo mais participativo ou seríamos eternamente escravos do Estado?

Como diz aquela comunidade no Orkut, brasileiro tem os pés no chão... E as mãos também!


"I'm a war president. I make decisions here in the Oval Office in foreign policy matters with war on my mind.

I think anybody who doesn't think I'm smart enough to handle the job is misunderestimating."

-George W Bush

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Aniversário

Vários autores já disseram a mesma coisa. O que me espanta em Clarice é como ela faz com que toda a mensagem possa ser entendida sem que o texto fique duro e perca o estilo.
Repetitivo ou não, eis as palavras que devem ser repetidas por todos os escritores e que são completamente atemporais:

" Berna, 2 de janeiro de 1947

Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você -
respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você -
pelo amor de Deus,
não queira fazer de você mesma uma pessoa perfeita -
não copie uma pessoa ideal, copie você mesma -
é esse o único meio de viver.
Juro por Deus que se houvesse um céu,
uma pessoa que se sacrificou por covardia -
será punida e irá para um inferno qualquer.
Se é que uma vida morna não será punida
por essa mesma mornidão.
Pegue para você o que lhe pertence,
e o que lhe pertence é tudo aquilo
que sua vida exige. Parece uma vida amoral.
Mas o que é verdadeiramente imoral
é ter desistido de si mesma.
Espero em Deus que você acredite em mim.
Isso seria uma lição para mim.
Ver o que pode suceder quando se pactua
com a comodidade de alma.

Tua Clarice"

sábado, 7 de abril de 2007

Esmola

"A cólera também tem privilégios".
O Rei Lear, Shakespeare

E eu já não sei mais se isso é um post ou um desabafo. Como posso continuar existindo achando que é um milagre grande demais estar vivo? Eu nunca exijo nada da vida, por que o ato de viver já é mais do que eu posso pedir?

Você tem uma doença, te botam na cabeça que você é quase normal por pura obra do destino - se dependesse da medicina você seria um cadáver - e o que você faz? Vive a vida com a concepção de que se você sobreviveu é porque tem uma missão, um objetivo grandioso e nobre, ou passa a fazer o menor dano possível, já que nem deveria estar vivo mesmo?

Se você entra em uma festa, da qual jamais poderia ter sido convidado tanto pelo jeito que está vestido quanto pelo seu conteúdo, você pensa "Sou foda! Olha onde cheguei e agora vou arrasar!" ou você fica num canto rezando pra que ninguém te note, só servindo de garçom para que os outros se divirtam mais?

Vinte e um anos para eu me olhar no espelho agora e dizer:
-Não se faça de coitado, você é miserável porque se acha miserável.
Se eu exigisse demais da vida tudo o que todas as pessoas tem, eu não estaria me iludindo e nem me arriscando. Quem já não tem nada, nada pode perder, já ensinava Mr Tzu.

Lendo sobre a obra de Nietzsche eu percebi algo vital a minha sobrevivência. Ele critica duramente o desperdício da fé, de como a fé faz o ser humano aceitar melhor os problemas e nada faz para superá-los. Apesar de ele ser contra a fé em todos os sentidos ele me fez um favor, ele me fez ver que eu uso a fé como desculpa e não como força, uso como conforto e não como incentivo. Eu posso mais e no entanto me vejo gastando infinito tempo apenas no que deu errado e me poupo do que pode dar certo, por algum motivo incompreensível.

O resultado é nítido: eu aceito bem as derrotas, tão bem que cheguei a me acostumar com elas. Amigos íntimos e de anos.

Correr o risco do fracasso sempre foi uma opção, agora, correr o risco do sucesso, de dar certo, ah! Isso sim me assusta!



"No one can make you feel inferior without your consent."
-Eleanor Roosevelt

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Quase um sacrilégio

"Eu me sentia imunda como a Bíblia fala dos imundos.
Porque foi que a Bíblia se ocupou tanto dos imundos...?"
-Clarice Lispector, A Paixão Segundo G.H.

Como sinto muita fome pela manhã eu sempre levo algo para comer no trabalho. Tomei o café às sete e já passava do meio dia quando eu pensei em comer meu lanche. Antes, porém, conversávamos sobre os costumes da sexta feira santa e neles eu havia cometido um pecado: o lanche era de frango.

Quando se trabalha no aeroporto com o tempo você esquece o que é um feriado. Dessa vez foi meu pai quem me lembrou, se não fosse ele capaz que eu esquecesse que ônibus nesta sexta é coisa rara e chegaria atrasado. Mas nessa sexta não pode comer carne, exceto peixe certo?

Horas sem comer, horas trabalhando, penso eu, cristão convicto, Jesus me perdoará. Não faz o tipo dele me deixar com fome só para agradá-lo, ele representa acima de tudo compaixão.

Mas nesse momento incerto um outro pensamento invadiu esta cabeça. Tomado por cenas de puro sangue e sofrimento, eu pensei no quanto um frango era pequeno diante de tanto significado. A gente ouvi a história Dele, vê o filme do Mel Gibson e no entanto é impossível sentir na pele o que Aquele homem sentiu. Era tanta a provação que metade dos cristãos que conheço teriam desistido logo no primeiro trecho, e os outros todos na metade. Quando o sangue misturado com suor escorre de tua face, quando as dores do flagelo e o cançaço dos músculos devido à força se juntam, não há ser humano que não teria jogado a cruz longe, implorado para ser morto ali e ainda dito "Pra quê tudo isso? A humanidade está perdida mesmo..."

Eu nunca tinha entendido uma passagem da Bíblia Sagrada que chamava Cristo de cordeiro. Parecia, da primeira vez que ouvi falar sobre isso, que ele era um agente do apocalípse, jorrando pragas neste mundo. Estudando depois eu entendi que a passagem era isso: o diabo rindo, falando que se alguém quisesse libertar o ser humano de todos os pecados, era abrir os sete selos e receber todos os pecados em troca. Jesus bateu no peito e disse "Só isso? Eu abro..."

E eu aqui, nem conseguindo negar um mísero sanduíche light, com gosto de nada e temperado com vento.

Não que seu tivesse comido o lanche eu teria ido para o inferno, não é isso. O fato é que essa situação me fez mais conivente com aquela lenda, em fez mais simpatizante da causa Dele. Me fez reparar em quanto existe um potencial grande em nós e que ele só pode ser usado para uma causa nobre dessas, o amor. Se um dia eu serei capaz de amar ou não, só o tempo vai me dizer. Mas potencial, se entregar a um destino incerto e cumprir sua missão, nisso Jesus foi mestre.

Enquanto o mundo pensa em ovos de páscoa, chocolate, reuniões de família, eu vou pensar em alguém que se matou por mim. E valeu a pena ele ter morrido?

Nesse longo ano eu descubro. Aliás, nesse ano eu descubrirei se mereço viver realmente.


"...remember the words of the Lord Jesus, how he said, 'It is more blessed to give than to receive.'" (Acts 20:35b)




quinta-feira, 5 de abril de 2007

Amórfico

"If l am not mistaken, the words "art" and "artist" did not exist during the
Renaissanceand before: there were simply architects, sculptors,
and painters, practicing a trade."
-M.C. Escher

As coisas caminham para que meu futuro seja, bem, seja meu futuro. Entre um pensamento e outro, entre um assunto discutido, há sempre um que nunca se resolve e me tira o sono de verdade: profissão. Se a profissão define um ser humano, se eu não consigo decidir uma, seria eu indefinível?

Eu sempre sofro quando o assunto coloca em foco o planejamento de anos da minha vida. O fato de eu não estar na faculdade tinha mais a ver com dinheiro do que com dúvida. Eu, quando menor, tinha certeza do que eu faria, e quando vi o boleto da faculdade, tinha certeza de que não faria. A vocação termina onde começa o dinheiro.

Nos últimos anos, emprego e com ele salário. Agora tudo parece ter mais valor. É impossível gastar centenas de reais por mês, somando ao meu desgaste e stress, tudo apenas por uma profissão que eu não me apaixone de verdade.

Pensando em soluções fiz uma lista que tinha por objetivo ao menos excluir tudo o que eu não faria. Dos que sobraram nota-se um ponto em comum: a criação. Nenhumas das profissões era repetitiva ou lidava apenas com procedimentos pré-impostos. Exatas se torna um campo raro em todas ou apenas um mal necessário, criatividade se torna pré requisito. É assim que eu gosto.

Hoje estou com uma probabilidade coçando a cabeça, apesar de saber que posso mudar de curso com o passar do tempo, sinto que estou próximo de bater o martelo. Existe uma profissão que acredito estar ganhando de todas que ficaram. Uma que alinha arte, criação e utilidade.

Eu vou pesquisar e tenho pessoas próximas que trabalham na área. Após experimentar tanto da faculdade quanto cotidiano é que eu vou saber com certeza, mas até lá, sem pressão; eu não decidi ainda.

E por favor, não me critiquem se eu mudar de idéia.



"I call architecture frozen music."

-Atribuída a Johann Wolfgang von Goethe e Friedrich Schiller



terça-feira, 3 de abril de 2007

A covardia ocultada na culpa

Esse texto não é meu.

A covardia ocultada na culpa



Nos sentimos culpados por tudo que há de autêntico em nós. Por nosso salário, nossas opiniões, nossas experiências, nossos desejos ocultos, nossa maneira de falar. Nos sentimos culpados até mesmo por nossos pais e nossos irmãos.

E qual o resultado? Paralisia. Ficamos com vergonha de fazer qualquer coisa diferente do que os outros estão esperando de nós. Não expomos nossas idéias, não pedimos ajuda. E justificamos isto, dizendo: “Jesus sofreu, e o sofrimento é necessário”.

Jesus atravessou muitas situações de sofrimento, mas jamais procurou permanecer nelas. Não se pode ocultar a covardia com desculpas deste tipo, senão o mundo inteiro não segue adiante.


Retirado desta página