segunda-feira, 19 de maio de 2008

E o tempo passou...

"É Melhor acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão"


Os pesadelos desde então mantinham o mesmo símbolo para me apavorar: a altura dos objetos. A porta era gigante, o criado-mudo inalcançável e os corredores vastos demais; de modo que, mesmo sem me olhar, eu já sabia que voltei a ser criança.

E voltavam também todos os meus medos. Era uma criança que passou a infância praticamente sem cicatrizes. Jamais subiu em uma árvore porque era demasiadamente gordo. E se odiava por isso, enquanto o mundo mudava e os amigos já pensavam em namorar, era tão invisível a libido alheia que se trancava a tarde toda em seu quarto, apenas se escondendo de si e da reprovação do resto dos considerados normais.

Meses depois e quilos a menos finalmente se envolvera com alguém, não fisicamente, mas tudo em sua vasta imaginação. E foi aquilo que chamam de tragédia. Ela era o símbolo ideal de tudo o que ele perseguia, e todas as vezes que ficavam sozinhos havia a possibilidade do beijo, junto com a possibilidade da rejeição.

Eu passei seis meses tentando ler o sinal de que ela queria. Hoje essa história volta pra mim por uma lição muito maior. Se logo no primeiro mês eu tivesse tentado o beijo, na pior das hipóteses eu levaria um tapa na cara, choraria por algum tempo, mas isso me economizaria de vida cinco meses que eu fiquei preso a esse sentimento e a essa sensação de dúvida.

O momento certo, o sinal que você espera, a oportunidade perfeita. E a vida vai assim, passando desapercebida enquanto simplesmente nada acontece.

Meses perdidos, isso existe? Eu pensei então em não arriscar perder. Arrisquei em ganhar. Isso ao menos era certo, decidi arriscar só para saber se era melhor. tanta coisa acontecendo atirando para todos os lados sem a menor mira tem sim uma vantagem gigante: você perde o medo, porque se algo não der certo, ainda existe o plano B, o plano C, e tantos outros. Pela primeira vez admiti que focar foi um erro.

Dai os pesadelos voltam, e eu renego a minha sabedoria inteira e retorno ao meu estado mais frágil. Criança, com todos os meus medos a flor da pele.

Achei irônico. Por mais que eu siga em frente sempre a vida arranja um jeito de me mostrar quem eu era.

E agora, o medo de eu retornar a ser aquela criança se torna o maior incentivo para eu continuar sendo quem sou.


"A luz veio muito depois do trovão."
-
Dan Brown. O código Da Vinci

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