quarta-feira, 30 de maio de 2007

Piedosamente Maléfico

"Take a walk outside your mind.
Tell me how it feels to be
the one who turns the knife inside of me"
-Aerosmith, Hole in my soul.

Hoje eu tinha que resolver um problema. Sentamos para conversar sobre os fatos de segunda feira e, num determinado ponto da conversa, começamos a falar dos nossos defeitos. T
em algo que quem trabalha (ou convive) comigo não consegue suportar: foram unânimes e insistentes em afirmar que eu sou piedoso, mas da maneira errada.

Disseram que eu funciono assim: Dou oportunidades e perdôo erros, apenas para que quando eu errar eles façam o mesmo e me protejam também.

Mas é óbvio que eles não me poupam.
Na esperança que eles não reclamem dos meus erros (da mesma maneira que os poupei) eu me frustro. Daí pra frente fico sensível, a menor das reclamações me tira do sério. Eu não reclamei de você, você não tem o direito de falar de mim. Eu posso até mesmo considerar isso traição.

Difícil não concordar que eu sigo esse método. Eu venho testando minha paciência ao limite e tenho não causado atritos por milhares de ocasiões. O problema é que esse mesmo senso de piedade vai me levar ao abismo. Eu já disse por aqui que o amor destruiu a minha vida, nada mais coerente que justificar como isso aconteceu. Amo tanto aos outros que eu consigo ser piedoso, mas nunca, jamais consegui trabalhar isso de maneira positiva.

Após um ato de maldade contra mim eu não faço vinganças, mas isso não significa que eu não pense nelas. Eu posso me calar diante de uma discussão, mas não significa que as palavras não estejam implorando para sair. Eu posso até mesmo não rebater uma agressão física, mas isso não significa que eu não desejo que os ossos da pessoa se quebrem.

Eu sou monstruoso. Eu aprendi apenas a negar certos impulsos e guardar determinados sentimentos, mas estou longe de aprender a trabalhar com eles, passei todo esse tempo pensando que estava no caminho certo. Engano meu, essas
coisas vão me matando por dentro, se cristalizando, até mesmo ao ponto de se tornarem físicas. Dor de cabeça, compulsão alimentar, noites mal dormidas e um dia talvez se tornem até mesmo câncer.

Essas história da piedade demasiada foi Nietzsche que me fez compreender o quão grave é. Tomar uma atitude de perdão diante uma ameaça pode ser até mesmo uma forma de interromper o universo e impedir o amadurecimento dos outros. Nietzsche queria dizer que toda vez que alguém se cala está evitando um problema, mas esse mesmo problema é talvez o que faria a pessoa evoluir, a faria mudar. Você nega a força que um conflito tem na vida de uma pessoa. Ele até inclusive gostava de ser considerado inimigo para os outros:
também é uma forma de iluminação ver o amadurecimento através da dor que ele causava.

Voltando a minha vida, eu me perguntei algo com o intuito de achar a base do problema. Será que eu estou passando a imagem de um santo e perdoando sempre apenas por que eu sei que um dia eu vou errar também? Melhor já ir garantindo meu perdão?

Talvez isso mascare algo mais profundo ainda. Será que eu consigo trabalhar as consequências de um erro genuinamente meu?

Eu devo sim ser piedoso, mas apenas quando eu conseguir trabalhar o sentimento que isso vai causar em mim ou quando ser piedoso não é para cobrar futuramente do meu agressor piedade em troca.


Lição do dia: em minhas mãos, até mesmo o Perdão pode ser uma maneira suja de chantagem.


"There´s a hole in my soul
that´s been killing me forever

It´s a place where a garden never grows
There´s a hole in my soul,
Yeah, I should have known better"
-Aerosmith, Hole in my soul

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