sexta-feira, 18 de maio de 2007

Wonderfalls (ou melhor: Wonder Falls)

-I surrender to destiny


De tudo o que me toca eu absorvo um pouco. Música, filmes, livros e seriados;
todos tem o seu devido lugar na minha vida. Contrariando minhas expectativas pessimistas, de tempos em tempos ótimos seriados surgem. Seja por um link perdido na internet ou por indicação de um amigo, uma nova porta se abre e me ensina mais sobre a vida e, consequentemente, sobre mim mesmo.

Wonderfalls é desse tipo.

Jaye é uma garota que aparenta ser desiludida com o mundo, alguém bem realista, que prefere morar num trailer a conviver com a família louca. O escape daquelas pessoas também tem outra origem, o fato de que neles sempre tem algo de vitorioso, e ela, aquela sensação de que não deu certo na vida e está sem perspectivas, quando por exemplo sua mãe publicou um livro e sua descrição tinha apenas agumas palavras, enquanto os outros filhos ganharam parágrafos inteiros.

Jaye trabalha em uma loja de souvenirs nas Cataratas do Niágara, divisa dos EUA com o Canada, característica até de contraste em alguns momentos do seriado. Seu trabalho é do tipo miserável, do tipo monótono. E por que afinal ela continua lá? Porque "é o suficiente pra bancar minha vida no trailer". Quantas pessoas não se submetem a empregos fáceis e estáveis, totalmente banais, apenas porque eles sustentam um padrão de vida comum?

Seu trabalho ainda é algo sem ambição. A única maneira de crescer era v
irar gerente e essa vaga acaba de ser preenchida pela pessoa mais geek e infeliz que possa existir. Alec (gentilmente apelidado por Jaye de "Mouthbreather", que respira pela boca) se torna o novo gerente e é só mais um na galeria de pessoas que ela tem que conviver e que transformam a vida dela num inferno particular.

Se tudo na vida dela tem um tom de derrota, o que dizer do amor? Parece que ela gosta, mas tem vergonha de expor os sentimentos para um barman local. Eric é alguém machucado, alguém que sofreu suas maiores decepções nesse local, viu um conto de fadas ser criado e destruído, tudo nessas cataratas, a wonder fall.

Jaye jamais mostrou seu interesse nesse homem justamente pela bagagem dramática que ele carrega. Ela sabe que ele merece algo melho
r, ela quer vê-lo com alguém normal e não com alguém tão excêntrica. Decepcioná-lo novamente e vê-lo tão mal não parece digno de alguém que gosta dele da forma que ela gosta. Isso me lembra e em muito uma frase de Grey's Anatomy, "Eu me sinto como aquelas pessoas tão completamente miseráveis que não podem ficar por perto das pessoas normais. É como se eu fosse contaminar as pessoas felizes...". E isso a afasta do amor de sua vida.

Uma vida cheia de negações, mas prestes a mudar. É o destino. É uma força que quer e não pode ser negada. Jaye passa do real para entrar em um mundo magnífico de possibilidades. Jaye começa a ouvir uma voz, talvez a sua voz interna, talvez loucura pessoal, talvez
o universo, Deus ou até mesmo o diabo, mas é uma voz que exige que ela faça, se movimente, questione, impactue. A voz quer que ela passe do total anonimato para alguém que vai causar mudanças na vida das pessoas, pura dinamite.

Seria lindo se Jaye entendesse, se ela pudesse compreender como ela
vai afetar o mundo a sua volta, mas, como na vida real, não existem avisos. Tudo o que há é a consequência. Atitudes são tomadas e tudo o que se conhecia muda. No final, e apenas no final, ela poderá concluir como foi importante.

Wonderfalls parece apenas um drama e é essa a intensão do texto. De fato, Wonderfalls é uma das melhores comédias que já vi na vida, vai te tirar risos e te fazer perder o fôlego em muitas cenas. Fiz iluminar apenas a parte do drama porque, apesar de muitas risadas, sempre no fin
al wonderfalls te faz acordar para muitas realidades.

A vida é um monte de coisas que poderiam ter sido e jamais serão
, nossa estabilidade é prejudicial a um bem maior, a um destino que não conhecemos, mas
sentimos que existe. Tudo sobre arriscar. Não dá pra viver sempre no território seguro quando nem mesmo o território seguro é estável.

Lidar com o acaso me gerou até mesmo esse seriado. Só de eu lembrar como eu conheci a pessoa que me apresentou Wonderfalls (e Grey's Anatomy, Tori Amos, Exalted, Keane, Snow Patrol, Tra
vis, Labirinto do Fauno, The Postal Service...) me faz lembrar que se eu estive em mais um dia na minha preguiça e no meu sofá, eu jamais conheceria tanto. Vale a pena lembrar que até a coragem do blog e de escrever vem disso: O lado C

Wonderfalls é sobre isso: possibilidades quando você não nega a vida.

No final Wonderfalls é dramédia. Mistura perfeita do que a vida repre
senta: momentos de boas risadas, aliados ou destruído por outros de pura reflexão ou dor.

"Don't you ever think about this life
And how strange it all can seem?
Only way to find the answers out
Is to wake up from its golden dream

But there's one thing really mystifying
It's got me laughing, now it's got me crying

All my life I will be death defying
'Til I know, 'til I know, 'til I know

I wonder wonder why the wonderfalls
I wonder why the wonderfalls on me

I wonder wonder why the wonderfalls
With everything I touch and hear and see"

-I wonder why the wonderfalls, Andy Partridge