sexta-feira, 9 de março de 2007

La Mala Educación

"You shouldn't have to sacrifice who you are just
because somebody else has a problem wit
h it."
-Carrie, SatC


Conflitos culturais no meu ambiente de trabalho não são raros, mas pela primeira vez eles me atingiram em cheio. Concordo que nem todos devem entender que o título do post remete à Almodóvar, aliás pode até ser que você não conheça Almodóvar - isso não deveria me faz melhor que você, mas pela primeira vez encarei o oposto: Ontem isso me fez pior que alguém.

Comer pão com um guardanapo foi um erro que todos julgaram que cometi - ou ao menos foi o fator inicial para todos começarem a falar o que pensam sobre mim. É, juro que começou com esse comentário e com algumas risadas, que logo prenderam atenção de mais pessoas sedentas por uma carniça e em poucos minutos o circo surreal estava armado: "Isso é coisa de gente que foi criada em apartamento", passando por "Duvido que ele já jogou bola com os pés descalços", evoluindo para "Vê se eu vou deixar meu filho ler o que esse muleque lê" culminando em "Imagina! Ele deve sair de casa com pantufas para não pegar resfriado". Coloque entre esses comentários um monte de olhares e risadas preconceituosas.

Eu me controlo até o momento que ofenderam não só a educação que meus pais me proporcionaram, como a minha cultura. Se eu já não gosto de ter pessoas rindo da minha cara e ficar exposto por minutos, imagina como fiquei quando os meus pais foram citados? E desde quando eu dei liberdade pra tudo isso?

Ora, hoje conclui que desde sempre. Primeiro, eu dou risada de cada piada deles, mesmo as racistas, as preconceituosas e as elitistas. Segundo, eu falo da minha vida e sempre tem um ouvido atento naquele café da manhã. Terceiro, eu me mostro como alguém diferente, eu assisto filmes que eles não ouviram falar, eu tenho amigos que eles jamais dariam "Oi" e gosto de coisas que eles, ou não entendem ou abominam. E todos sabem disso.

É, depois do amargo café da manhã o garoto sai magoado e vai refletir. Eu até mesmo me perguntei algumas vezes "Onde erraram na minha educação?". Eu fiquei tão surpreendido pelas ofenças que até estava esquecendo da verdadeira pergunta: "Afinal, alguém pode considerar minha educação errada?"

Bom, eu tenho uma lista de escritores favoritos e só para citar alguns exemplos um dos nomes é de um escritor da Prússia e outro de uma nascida na Ucrânia. Eu assisto cinema italiano e ainda acho David Fincher e toda a sua violência um Cult. Eu queria conhecer Dostoievisk e fico me devendo alugar mais Almodóvar. Por último eu dou risada e me emociono, tudo em 30 minutos, basta assistir Sex and the City. Tanta coisa nos difere.

Pensei então, não seria mais fácil a convivência procurando onde é que a minha cultura se sobrepunha a de quem me provoca? Eu nem decorei o nome dos BBBs, eu não sei como acabou a novela das 8 e sobre carros ainda tenho uma idéia superficial, sobretudo preço
s. Mas no meio de tantos assuntos achei um. Era isso o tempo todo. Havia sim um livro que nós lemos em comum: uma biografia. E foi essa tal biografia que me fez concluir o assunto.

Tudo o que eu li e estudei sempre ampliaram meus horizontes e de maneira nenhuma eles me limitaram. Eu posso
ler o que quiser e vou mais além: posso concluir o que quiser, e ainda assim isso não me fazer melhor nem pior que eles, logo eu não posso julgá-los, certo? Mas e o oposto? Eu fui julgado e apenas isso ilustra o quanto ler e praticar são duas coisas completamente diferentes para essas pessoas. Elas leram a biografia e fingem que praticam o que leram? Isso é loucura.

Eles julgam, se cegam para determinadas informações e se limitam. A começar pelo fato de alguém lê o tal livro para eles.
É leitura mastigada pra adultos, é do tipo "Eu leio, comento, interpreto e cabe a você apenas aceitar como eu impor, mesmo sem saber se a tradução significa realmente o que eu falo". No final não conseguem entender o que o escritor quis dizer.

Pior, eles não praticam a lição que o escritor passou. No mesmíssimo livro que lemos estava escrito - e só faltou vir em negrito
- que não devemos julgar ao próximo.

Pronto! Eu finalmente me salvo dos hipócritas. Perdoa-os Senhor, eles não são capazes de entender, sobretudo praticar vossas palavras.
Achei o abismo entre nós e essa vai ser sempre a diferença de nossas educações.

Eu peguei um pão, um guardanapo e encarei os olhares maliciosos dos juizes, prontos pra mais uma rodada de insultos. Dessa vez eu disse em voz alta encarando o orador-mór: "Sim, eu tenho uma educação diferente. E não vou mudar porque você quer".

É, depois disso o café da manhã até teve outro sabor...


"Esta recomendação só visa a estabelecer a caridade, nascida de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera. Apartando-se desta norma, alguns se entregaram a discursos vãos. Retensos doutores da lei, que não compreendem nem o que dizem nem o que afirmam."

-I Timóteo 1:3

"E seus filhos serão como na antiguidade e Eu castigarei todos os seus opressores".
-Jeremias 30:20

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