sexta-feira, 2 de março de 2007

Sanguinários

E então naquele escritório elegante e moderno minha doutora olha nos meus olhos e Pergunta:
-Você é sexualmente ativo?

Eu disse sim, mas conheço gente que responderia "Isso foi um convite?" ou até mesmo "Sexualmente ativo? Passivo, mas a gente pode negociar!". Eu entendi que ela só queria saber se eu não era virgem. Fico um pouco corado e espero ela completar minha lista de exames. Dessa vez ela pediu um exame a mais.

Desde que minha médica - que eu amo - pronunciou a palavra hipotir(e)oidismo quando tinha 18 anos eu comecei uma jornada delicada em busca de um estado saudável e controlado por remédios. Ela, por ser muito competente, acaba por pedir vários exames, desde colesterol até anemia e a gente tem essa intimidade toda mesmo, ela pode perguntar o que quiser e pedir o exame que bem entender.

Meses atrás eu fui tirar sangue e uma enfermeira dalit e insegura me pergunto "Você não tem nenhuma doencinha no sangue, né?". Doencinha? Me toquei bem depois: é assim que aquela anti-ética chamava AIDS.

Aids cara, era isso que ela quis dizer e eu não fiquei irritado, nem reagi dizendo "Não, não. Aids, eu?". Eu respeito muita coisa e qualquer que seja o motivo por alguém ter pego não faz essa doença e o sofrimento serem menos nobres do que qualquer outra. Morreu de câncer é herói, morreu de Aids era viado?



Tudo isso veio a tona quando fui retirar sangue hoje. Entrei na sala de um enfermeiro que já de longe dava pra sentir que era brâmane na vida. Ele era idêntico ao David Finsher de Six feet Under e eu só não comentei porque ele deve ter ouvido milhares de vezes o mesmo comentário. Ele tinha o mesmo olhar de superior, a mesma precisão de um perfeccionista e o mesmo jeito delicado. Juro que era igual.

E tudo explodiu quando ele me perguntou "O balconista não te deu nada pra preencher? Certeza que não?". E ele foi com olhar de que amaldiçoaria até a décima geração do atendente. Ele volta com um papel e eu percebo tudo. Tive que assinar uma autorização. Será que algum exame era grave? Que nada, eu percebi que entre testes de tiroxina livre e teste pra síndrome de hashimoto havia um teste de HIV.

Obrigado doutora, ela se preocupa comigo. Após abrir o resultado de um teste de colesterol e triglicérides anos atrás e que 45 dias antes dele ela suspeitava que eu fosse diabético a fez abrir um sorriso sincero. De coração você não morre mais, disse ela. A doutora não só cuida, mas também torce por mim.

Queria que mais pessoas torcessem e me desejassem o bem.

Quanto ao resultado? Eu me preocupo com a tireóide, colesterol, triglicérides e saber se finalmente a origem de tudo é a tal Hashimoto. Sobre Aids eu nem ligo, eu me previno.

De qualquer forma o resultado fica pronto segunda...


PS: Eu fico devendo um post sobre Six Feet Under e outro sobre a descoberta da hipo.

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