quinta-feira, 15 de março de 2007

Brilho Temporário de uma Mente Confusa

Todos essses momentos de introspecção estão me levando a caminhos novos. No primeiro ato eu discuti coisas relacionadas a falta de amor próprio, ao meu desespero por uma guinada na minha vida, a minha covardia de não mudar, e por ai vai. Tudo é na realidade um reflexo de momentos que eu já vivi antes, lembranças que permanecem. Tudo é afterglow, me ensinou um amigo.

Se tudo o que eu vivi, tudo o que me traumatizou retorna agora com força total, o que fazer com tantos restos de sentimentos? Eu tive que assistir O Brilho Eterno de uma Mente sem Lembraças para descobrir.

Desnecessário dizer o quão traumatizado eu estou agora. Aquela obra prima me fez ver que nem todas as lembranças devem ser apagadas. O problema de nossos traumas - de tudo que a gente vira a cara e finge não ter existido - vai e volta não porque nossa mente quer, mas porque a gente quer. Eu preciso de cada erro, necessito de cada trauma e eu sou cada pensamento meu. Se tudo isso fosse embora só sobraria a casca. Eu não seria Roque, afinal.

Grey's anatomy discutiu isso com maestria. E se sua mãe acordasse e não lembrasse mais de você? E se um médico dissesse que o amor da sua vida vai pra uma sala de cirurgia e voltaria sem te reconhecer, ou seja, sem te amar? Você daria ao seu amor 5 anos de vida normal ou 10 com amnésia?

"-Você tem que considerar o que pode perder. Para que outros 5 anos se ele não vai mais brincar sobre seus omeletes e ele não vai poder mais se lembrar de ver você de vestido vermelho?
-Ainda são mais 5 anos.
-Você não entende. Ele vai estar aqui, mas não vai ser o Jorge. Ele nem vai reconhecê-la.
- Isso é coisa nossa..
-Vocês não tem idéia do que isso vai fazer com vocês. Não é melhor 5 anos bons do que 10 anos ruins?
-Você acha que estou sendo egoísta, que eu não quero desistir dele!
- Não acho.
- Essa é uma decisão do Jorge. E se isso significa 10 anos ruins para mim, está tudo bem. Eu vou dar a ele estes anos porque eu daria tudo o que ele quisesse. E se ele ainda não se lembrar de mim, se ele não se lembrar o que somos, ele ainda vai ser meu Jorge.
E eu vou lembrar disso por nós dois."

É confuso entender sem assistir o filme e deve ser mais ainda pra quem apenas lê. A conclusão é que o que eu faço hoje tem relação com o passado, e, apesar de eu ter desejado antes que essas coisas fossem apagadas de minha mente, sem elas EU não existo. Quem sou eu senão um afterglow de todos esses momentos?

O que fazer com essas memórias, então? Nada, elas já fizeram algo por mim. Eu ergo as mão ao céu e digo que sem essas desgraças pessoais talvez eu seria só mais um, pior ainda, poderia ser alguém normal. Deus me livre de ser comum, eu estaria correndo desse computador porque vai começar Malhação. Credo! Eu fui salvo dessa vida e só porque tenho essas dúvidas e tenho essa obrigação de lidar com o passado é que sinto vontade ir atrás de respostas.

No final não, eu não trocaria essas lembranças por nada.


*

Um comentário:

Bruno Canato disse...

O que a maior parte das pessoas não considera é que, mesmo sem lembrar, aquilo ainda te afeta. Fica, de certa forma, no fundo da mente - como a Clem surtando.

Por ter praticamente esquecido nove anos da minha vida, eu acabei desenvolvendo uma memória boa para o resto. O que é uma droga, porque quando eu gostaria de esquecer alguma coisa, eu não consigo - como eu percebi, entretanto, recentemente, querer esquecer é um caminho para lembrar.

No fim, eu acho, não importa se você lembra ou esquece, mas como você trata as coisas a partir daí. Eu não vou esquecer as coisas, isso é fato - e o que eu faço com elas? Porque passar a ser uma pessoa que esquece não é opção.

"There´s Osidius the Emphatic. A swoop, and a cross."